domingo, 21 de fevereiro de 2016

sábado, 7 de novembro de 2015

A educação especial frente às novas tecnologias


O Computador e o Portador de Necessidades Especiais


A informática e o computador podem se tornar grandes aliados do portador de necessidades especiais. Entretanto, precisam ser encarados de forma realista e não como a panacéia para uma problemática, até hoje ainda sem solução.
Uma das vantagens da utilização do computador com uma clientela possuidora de especificidade tão distintas - a instauração de uma situação de aprendizagem na qual não há riscos de bloqueios cognitivos em função de problemas emotivos ou de faltas na capacidade de relacionamento. Segundo Lolline (1991), como subsídio didático, o computador é um animal dócil e paciente. Diferentemente dos seres humanos, não se queixa, não grita e não castiga em caso de erro. O computador se apresenta como uma máquina que repete docilmente o trabalho, responde perguntas, cala-se ao mero comando de uma tecla e obviamente não provoca constrangimentos afetivos durante as situações de aprendizagem propostas.
Além de todos os aspectos já mencionados, o portador de necessidades especiais poder encontrar no computador um maior leque de opções do que as oferecidas pela escola. Pesquisas futuras poderão ratificar a hipótese que dentre os motivos que causam comportamentos alterados podem desaparecer quando o aluno trabalha com uma máquina que não perde a paciência, não julga e não o apressa. Esta máquina não tem como suspirar denotando impaciência, e acima de tudo, este aluno, já tão estigmatizado poder trabalhar e produzir sem o medo da nota ou da comparação, que de maneira geral, acontecem em situações de aprendizagem.

Deficiência Auditiva e Computador

Vários especialistas em problemas cognitivos e linguísticos de deficientes auditivos têm enfocado as relações entre algumas dificuldades cognitivas dos surdos e questões relativas ao desenvolvimento de suas características simbólico-verbais. Fernandes (1990), reportando-se a Myklebust (1964), afirma que as operações mentais mais afetadas pela surdez " são as que requerem facilidade simbólico verbal". Apesar da possibilidade do desenvolvimento de uma linguagem própria, o domínio desta linguagem não seria suficiente para que as crianças surdas pudessem suprir as várias necessidades relativas a ausências de um código simbólico-verbal específico como o usado por qualquer falante normal.
A interação do computador com o surdo poder representar um passo a frente no que diz respeito à educação, porém é preciso que se reconheça a necessidade da interdisciplinaridade para que se possa, de fato, criar e implementar programas que facilitem o aprendizado desta clientela que detém uma gama incrível de especificidades.
No Rio de Janeiro, há experiências no INES (Instituto Nacional de Surdos) que inserem no trabalho pedagógico a Linguagem LOGO. Além disso, pesquisas na área de informática e surdez vêm sendo desenvolvidas em várias Universidades brasileiras, tanto na área de produção de softwares educativos, quanto na área da engenharia Biomédica.
Um exemplo é a pesquisa de Doutorado de Silva desenvolvida na Unicamp, em parceria com a UERJ e UFRJ que pretende o desenvolvimento de um software educativo com o objetivo de facilitar o processo de alfabetização, tendo a língua de sinais como fio condutor.

Deficiência Visual e Computador

Assim como o deficiente auditivo, o deficiente visual já pode utilizar o computador como uma ferramenta a mais em sua vida acadêmica. O sistema operacional DOSVOX, desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade federal do Rio de Janeiro, sob a supervisão do analista José Antonio Borges, permite que pessoas cegas utilizem um microcomputador, através do uso de sintetizador de voz para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um alto nível de independência no estudo e trabalho.
Além do DOSVOX, os cegos também podem ter acesso a INTERNET através do DOSVOX/DISCAVOX que é um programa que permite o acesso à Internet através de uma linha telefônica e de um Fax Modem. Os textos vindos da Internet são sintetizados em fala na língua portuguesa, esta infraestrutura viabiliza ao cego a navegação pela rede, uma fonte quase inesgotável de cultura.

Deficiência Física e Paralisia cerebral e Computador

Segundo Henrriques (1990), a terminologia mais correta para definir este quadro seria Encefalopatia Crônica da Infância. Encefalopatia porque a lesão - de toda a massa encefálica que está contida no crânio; crônica porque persiste por toda a vida e da infância porque pode se apresentar desde o nascimento até - os três anos de idade.
Em função da desinformação sobre o que é a paralisia cerebral, o portador desta deficiência é, muitas vezes, tratado como portador de deficiência mental e/ou física. A paralisia cerebral atinge áreas do cérebro responsáveis pelo movimento e equilíbrio das pessoas, podendo ainda provocar alterações de fala, audição, fala, visão, percepção, comportamento, além de crises convulsivas e deficiência mental. Deste modo, os portadores de paralisia cerebral podem apresentar alterações neuro-musculares que se evidenciam por um quadro de espasticidade (rigidez) ou por um quadro de hipotonia (flacidez), com movimentos descoordenados, com dificuldade de pegar objetos, falta de equilíbrio e, às vezes, com outros distúrbios associados como cegueira, surdez, deficiência mental, etc.. Todo este quadro clínico - variável e diverso e deve-se a uma lesão do encéfalo, antes, durante e/ou após o parto, provocada por infecções como menigite, encefalite, distúrbios respiratórios graves, traumatismos, desnutrição, etc.
A informática parece ter caminhado bem mais rapidamente na área da medicina do que na área educacional, no que se refere à reabilitação e a facilitação da vida social do deficiente físico e do portador de paralisia cerebral. Entretanto, pode-se, também, inferir que esta clientela em muito se beneficia, no campo educacional, com a inserção do computador em sua vida escolar.
Crianças com dificuldade de pegar um lápis devido a paralisias podem utilizar o teclado, seja para escrever, desenhar ou colorir, e, com o computador, a produção e ilustração de textos torna-se mais estética. Além disso, para os portadores de problemas motores o desenho é quase sempre tarefa muito árdua. Ilustrar um texto com o ferramental disponível no computador para aqueles portadores desta dificuldade torna-se um feito artístico e estético.
Para o portador de paralisia cerebral a experiência educativa com o computador significa a oportunidade de desenvolver atividades desafiantes tanto no campo educacional quanto no de diagnóstico. Além disso, a grande maioria das experiências demonstram que o trabalho pedagógico apoiado pela informática propicia uma compreensão mais profunda da capacidade intelectual da criança por sobrepujar a deficiência ao ser capaz de uma produção mais estética.
No Brasil, várias universidades públicas (UFRJ/UERJ/UNICAMP/UFRGS) desenvolvem pesquisa nesta área. Também, algumas secretarias de educação já possuem programas de informática aplicada à educação específicos para esta clientela, entre elas, podemos citar a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Autismo

É necessário frisar que estas crianças possuem um perfil bastante idiossincrásico, o que em muito dificulta o processo pedagógico. Embora haja uma grande dificuldade em se obter diagnósticos precisos, vale ressaltar que estas crianças costumam apresentar algumas e até muitas das seguintes características: (a) não se misturam com outras crianças; (b) agem como se fossem surdas; (c) resistem ao aprendizado; (d) não demostram medo de perigos reais; (e) resistem a mudanças de rotina; (f) usam pessoas como ferramentas; (f) têm risos e movimentos não apropriados; (g) resistem ao contato físico; (h) têm acentuada hiperatividade física; (i) não mantém contato visual; (j) têm apego não apropriado a objetos; (k) giram objetos de maneira bizarra e peculiar; (l) as vezes são agressivos e destrutivos; e (m) apresentam modo e comportamento indiferente e arredio.
A idiossincrasia comportamental dos portadores desta Síndrome têm, sistematicamente, os afastado dos bancos escolares. A impossibilidade de relação com o meio-ambiente torna o autista um cidadão alijado do processo educacional.
A fortaleza intransponível refletida pelo mundo autista poder encontrar no computador um aliado. Algumas experiências apontam para a possibilidade de integração entre estas crianças e a máquina. O computador abre, assim, uma porta de entrada para este mundo tão desconhecido. Serão necessários, ainda, muitos anos de tentativas para que se obtenham respostas.
Por todos estes motivos não há como se alijar o computador do processo ensino-aprendizagem. Ao analisarmos o progresso da Informática, podemos concluir o quanto esta é uma ciência abrangente e dinâmica, uma vez que, além de combinar aplicações de todas as áreas do conhecimento, seus usos são praticamente ilimitados.
Para finalizar, é fundamental que se ressalte que cada indivíduo portador de necessidades educativas especiais é um universo ainda muito desconhecido para aqueles que organizam e implementam programas educacionais; se faz necessário uma abordagem multidisciplinar/interdisciplinar e muita humildade para admitir que ou muito pouco se conhece no campo das necessidades educativas especiais.
Os resultados destas experiências apontam tanto para a possibilidade de inclusão do portador de necessidades educativas especiais em turmas regulares, quanto para a inesgotável possibilidade de uso da informática no cotidiano escolar. Entretanto, vale ressaltar que tanto a inclusão do portador de necessidades educativas especiais quanto a inserção de novas tecnologias no cotidiano escolar vão depender da instrumentalização do professor para resgatar a intencionalidade de sua prática, a dimensão social da mesma e fundamentalmente uma tomada de consciência de seu próprio fazer pedagógico.
Vale a pena reiterar que a mera inserção de novas tecnologias no cotidiano escolar não garantirá a melhoria da qualidade de ensino, assim como a mera " inserção" do portador de necessidades educativas especiais em escolas regulares não garantirá uma presente e certamente futura exclusão social desta clientela.

Inclusão x Inserção

A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 aponta para a inclusão em escolares regulares do portador de necessidades educativas especiais, mas, também, assegura o atendimento educacional em classes, escolas ou serviços especializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. (LDB,1996).
A inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais no sistema regular de ensino é possível desde que sejam considerados, entre outros, alguns dos seguintes aspectos: (a) grau de comprometimento das crianças especiais a serem inseridas em turmas regulares; (b) atendimento multidisciplinar; (c) preparação dos profissionais de ensino; (d) condições físicas das escolas; (e) número de crianças por turma; (f) recursos materiais; (g) visão interdisciplinar do currículo.
Segregar crianças severamente comprometidas para um atendimento mais individualizado na primeira infância pode se tornar um fator de integração social futura; além disso, há crianças que dificilmente serão incluídas no processo educacional regular em função de sua atipicidade comportamental o que demandará da educação especial a busca de alternativas educacionais específicas para esta ou aquela forma de atendimento.
A inclusão/integração não é, portanto, uma panacéia a ser aplicada indistintamente em toda e qualquer criança. A escola precisa saber o seu potencial de atuação para que não se comporte de forma demagógica com relação a estas crianças.
A mera inserção de crianças portadoras de necessidades educativas especiais em turmas/ escolas regulares não garante a inclusão, de fato, destas crianças no processo educacional. É necessário que não se paralise frente as diferenças, mas também torna-se fundamental que se redesenhe o papel da escola. Para tanto, o respeito às diferenças e às diferentes falas devem estar presentes no cotidiano escolar. Inserir todos estes aspectos na prática pedagógica demandará do educador uma postura crítica frente a inclusão destas crianças, assim como exigirá do educador a intencionalidade de sua prática. Incluir significa muito mais do que inserir. Não podemos mais ser reféns de posturas ideológicas que em muito pouco contribuem para a qualidade da educação. Incluir - sim - sempre que for possível, incluir, sim, sempre que esta inclusão signifique melhoria da qualidade de vida do indivíduo e, desta forma, contribua para a sua real inclusão social, garantindo-lhe sua cidadania plena.

* Referências Bibliográficas


Bastos, Rangel, César, A., Soares Ramalho,E.&Gonçalves Magalhães,K. Informática integrada a uma proposta curricular.Trabalho apresentado no Encontro Brasil-França. Informática na Educação, R.J.,1993.
Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases,1996.
Freire, Paulo. Educação como prática da liberdade. RJ. Paz e Terra,1967.
Fróes,J.R. O computador como suporte do processo simbólico na educação do deficiente auditivo. Projeto apresentado no INES, 1990.
Henriques, Vera Lúcia. Paralisia Cerebral in Ótica e legislação: os direitos das pessoas portadoras de deficiência no Brasil. RJ.: Rotary Club,1990.
Lollini, Paolo. Didática & Computador. São Paulo,Loyola,1991.
Mazzota, Marcos. Política Nacional de Educação Especial. CADERNO CEDES, 1989.
Oliveira, lvaro. A criança excepcional - causas e consequências. Pró-Criança, Separata Informativo, Florianópolis, s/d.
Papert, Seymour. LOGO: computadores e educação. S.P. Brasiliense,1985.
Piaget, Jean. O estruturalismo. S.P Difusão Européia do Livro, 1970.
Piaget,Jean. O nascimento da inteligência na criança.R.J.Guanabara,1987.
Pichon,Rivière. Del psicoanálisis a s psicología social. Buenos Aires,Galerna 1971.
Vygostsky, L. S. Pensamento e linguagem. Lisboa,Antidoto,1979.
Vygostsky,L.S. A formação social da mente. S.P. Martins Fontes,1984.

* Angela Carrancho da Silva - Doutoranda em Educação - UNICAMP
Mestre em Educação - UFRJ
Assistente da Divisão de Midia Educação da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Professora da Faculdade de Educação da UERJ
Coordenadora do Programa de Pos-graduação em Informática aplicada a
Educação das Faculdades Integradas SIMONSEN

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Educação popular

A educação popular é uma educação comprometida e participativa, orientada pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo.
O paradigma da educação popular, inspirado  no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A prática e a reflexão sobre a prática, levou a incorporar outra categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder transformar. Nos últimos anos, os educadores que permaneceram fiéis aos princípios da educação popular atuaram principalmente em duas direções:  na educação pública popular, no espaço conquistado no interior do Estado e na educação popular comunitária e na educação ambiental ou sustentável, predominantemente não governamentais.
Durante os regimes autoritários da América Latina a educação popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas democráticas,  ocorreu com a educação popular uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou  uma nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas políticas públicas e, de outro lado,  continuou como educação não-formal, dispersando-se em milhares de pequenas experiências.  Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e conseguiu atravessar numerosas fronteiras.
Hoje ela se incorporou ao pensamento pedagógico universal e orienta a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como o testemunha o Fórum Paulo Freire e o Fórum Mundial de Educação que reúnem, periodicamente, milhares de educadores de muitos países.
As práticas de educação popular também constituem-se em mecanismos de democratização, onde se refletem os valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O terceiro setor está crescendo não apenas como alternativa entre o Estado burocrático e o Mercado insolidário, mas como espaço de novas vivências sociais e políticas hoje consolidadas com as organizações não governamentais (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este está sendo atualmente o campo mais fértil da educação popular.
Diante desse quadro, a educação popular, como modelo teórico reconceituado, tem oferecido  grandes alternativas. Dentre elas está a reforma dos sistemas de escolarização pública. A vinculação  da educação popular com o poder local e a economia popular abre, também, novas e inéditas  possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da educação popular, elaborado na  reflexão sobre a prática da educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma das grandes contribuições da América Latina à teoria e à prática educativas em nível internacional. A  noção de aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de ensinar a partir de palavras e  temas geradores, a educação como ato de conhecimento e de transformação social, a politicidade da  educação são apenas alguns dos legados da educação popular à pedagogia crítica universal.

domingo, 25 de setembro de 2011

Didática no Ensino Superior

A formação de um educador como profissional na área acadêmica fica muito além de sua experiência prática e seus conhecimentos fora dela. É preciso de conhecimentos que criem uma interface entre o empirismo e a arte de como ensinar de forma científica. Neste contexto, a titularidade de um docente com vasta experiência não-acadêmica e com formação pedagógica e didática, tendo como pilares a arte e ciência da educação e do ensino, é de essencial importância para que a educação chegue aos educandos de forma correta e assimilativa. A didática do ensino é uma extraordinária técnica para o ensinamento dos educandos, pois mostra que saber ensinar não é somente ter experiência fora da sala de aula. Precisa saber como lhe dar com os alunos de forma científica, apresentando as técnicas corretas para o ensino-aprendizado correto. Ao explicar como a Didática do Ensino Superior pode ser eficaz na formação do educando, será apresentado seu conceito histórico e o reconhecimento pela importância do ensino ou da aprendizagem. Também, serão contrastadas as diferentes abordagens a cerca do processo de aprendizagem e os princípios da Pedagogia e da Andragogia, bem como os fatores que contribuem para eficácia da aprendizagem.
Embora o educador seja visto como o principal elemento do processo de aprendizagem, ele não tem por natureza o domínio total de fatores que estão relacionados aos estudantes, tais como suas particularidades pessoais, necessidades e interesses. Na maioria das circunstâncias, não detém capacidade de influenciar a políticas organizacionais e administrativas da escola. Entretanto, ele responde muito bem, ao conhecimento da disciplina que ministra, as habilidades para comunicação dos conteúdos, a maestria em relação ao uso de recursos instrucionais e ao clima estabelecido em sala de aula. Se não for responsável para tanto não será apto eticamente e nem digno de sua profissão de professor.
A preparação dos educadores para o ensino básico é oferecida em qualquer curso de disciplinas de cunho pedagógico. A palavra pedagogia refere-se somente à condução de crianças; cursos dessa natureza não seriam adequados para a preparação de professores universitários, cujos alunos, embora nem sempre sejam adultos, estão mais próximos dessa etapa da vida do que da infância. Por essa razão é que a partir do último quartel do século XX, graças ao aparecimento do livro the modern practice of adult education de Malcom Knowles (1970), começou a popularizar-se o termo andragogia para referir-se à arte e a ciência de orientar adultos a aprender.
A andragogia fundamenta-se nos seguintes princípios:
Conceito de aprendente. Este conceito é adotado como alternativa ao de “aluno” ou “formando”. O aprendente, ou aquele que aprende, é autodirigido, o que significa que a responsável pela sua aprendizagem e estabelece e delimita o seu percurso educacional.
Necessidade do conhecimento. Os adultos sabem melhor do que as crianças da necessidade de conhecimento. Eles se sentem muito mais responsáveis pela sua aprendizagem e pela delimitação de seu percurso educacional.
Motivação para aprender. O modelo andragógico leva em conta as motivações externas, como melhor trabalho e aumento salarial, mas também, valoriza, particularmente, as motivações internas relacionadas com sua própria vontade de crescimento, como auto-estima, reconhecimento, autoconfiança e atualização das potencialidades pessoais.
Papel da experiência. Os adultos entram num processo educativo com experiências bastante diversas e é a partir delas que eles se dispõem a participar ou não de algum programa educacional. Por isso, essas experiências devem ser aceitas como fonte de recursos a serem valorizados e partilhados, servindo base para a formação acadêmica. Os conhecimentos dos professores e os recursos institucionais, como os livros e as projeções, são fontes que por si só não garantem o interesse pela aprendizagem. Devem ser vistos como opções que são colocadas à disposição para livre escolha do aprendiz.
Prontidão para o aprendizado. O adulto tem uma orientação mais pragmática do que a da criança. O adulto está pronto para aprender o que decide aprender. Ele se torna disponível par aprender quando pretende melhorar seu desempenho em relação a determinado aspecto de sua vida. Sua seleção de aprendizagem é natural e realista; por isso, muitas vezes ele se nega a aprender o que os outros lhe impõem. Além disso, sua retenção tende a decrescer quando percebe que o conhecimento não pode ser aplicado imediatamente. Assim, convém organizar as experiências de aprendizagem de acordo com as unidades temáticas que tenham sentido e sejam adequadas às tarefas que os adultos são solicitados a realizar nos seus diversos contextos de vida.
Dessa forma, uma educação no contexto andragógico requer elaboração de diagnósticos de necessidades e interesses dos estudantes; definição de objetivos e planejamento das tarefas com a participação dos estudantes; estabelecimento de um clima cooperativo, informal e de suporte a aprendizagem; seleção de conteúdos significativos para os estudantes; definição de contratos e projetos de aprendizagem; aprendizagem orientada para tarefas ou centrada em problemas; uso de projetos de investigação, estudo independente e técnicas vivenciais; valorização da discussão e da solução de problemas em grupo; utilização de procedimentos de avaliação diretamente relacionados à aprendizagem.
Embora a adoção do conceito de Andragogia não seja consensual, pode-se afirmar que a prática docente do professor universitário pode ser significativamente melhorada com a adoção de seus princípios.
Para garantir um aprendizado eficaz alguns fatores entram em confronto para que os discentes se capacitem e tentam compreender fatos e teorias, desenvolvendo habilidades para resolução de problemas mais complexos. Há três fontes individuais que influenciam de aprendizagem: o estudante, o professor e o curso. Essas fontes, no entanto, relacionam entre si algumas variáveis. As relacionadas aos alunos referem-se as suas aptidões, aos seus hábitos de estudo e a sua motivação. As variáveis relacionadas aos professores referem-se principalmente aos conhecimentos relativos à matéria a suas habilidades pedagógicas, a sua motivação e sua percepção a cerca da educação. As variáveis relacionadas ao curso, por fim, referem-se aos objetivos propostos e aos métodos utilizados para melhor alcançá-los.
As habilidades, motivações e hábitos de alunos em relação aos estudos, não são, suficientemente, os sucessos da melhor aprendizagem. Cabe, portanto, considerar o papel do professor nesse processo.
O que mais se considera importante é o conhecimento de que professor dispõe, em relação à matéria que ensina. Nesse sentido, o educador que conhece bem os conteúdos da disciplina que ministra, demonstra muito mais segurança ao ensinar, expõe com maior propriedade e é capaz de responder sem maiores dificuldades as perguntas formuladas pelos alunos. No entanto, há outros fatores a serem considerados, já que alguns professores mostram ser mais competentes que outros para manter os alunos atentos, para explanar conceitos complexos e para criar uma ambiente agradável em sala de aula. Assim, pode ser considerado que a efetiva prática do professor universitário está envolvida nos conhecimentos específicos relacionados à matéria, as suas habilidades pedagógicas e à sua motivação.
No que se concerne às habilidades pedagógicas do professor universitário, a respeito do nível de ensino, não têm sido devidamente considerado ao longo da história. Tanto dos professores de ensino fundamental quanto do ensino médio, há muito tempo se exige formação específica quer por meio de curso normal - hoje em nível superior - quer de licenciaturas específicas.
Nesses cursos, mediante disciplinas como Didática, Metodologia do Ensino, Psicologia da Aprendizagem, e a Prática de Ensino, os professores podem desenvolver as habilidades necessárias para o desempenho de suas atribuições de educador. Dos professores universitários exige-se hoje, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, formação em nível de pós-graduação, prioritariamente em programa de mestrado e doutorado. Ocorre, porém, que a maioria desses programas não contempla seus concluintes com disciplina de caráter didático-pedagógico. Dessa forma, o desenvolvimento de habilidades pedagógicas dos professores universitários costuma se dar por meio de cursos específicos ou de leituras desenvolvidas individualmente. Muitos professores também conseguem, por meio da intuição e experiência, obter altos níveis de capacitação pedagógica. Outros, no entanto, tendem a permanecer carentes de habilidades pedagógicas ao longo de toda sua vida acadêmica.
O aprendizado dos alunos também tema haver com a motivação do professor. Quando o professor está motivado para ensinar e demonstrar seu entusiasmo com a matéria, cria-se um clima muito mais favorável para a aprendizagem. E convém considerar que essa motivação depende muito menos do salário e das condições de ensino do que do quão responsável o professor se sente pelo aprendizado dos alunos e quão realizadora e desafiadora é a sua missão.

Perfil do Tutor de Ensino á distância

          O perfil de tutor desejável para um programa de EAD: Atribuições e  atividades de rotinas do tutor online. 
Na modalidade de EAD o tutor tem um papel fundamental. É um profissional com a função de acompanhamento no processo ensino-aprendizagem e responsável pela aproximação, articulação entre os alunos, sendo responsável pela avaliação do cursista nas praticas curriculares. Percebemos, pelo histórico da educação acima sintetizado que a EAD é um sistema de ensino implementado de modo a adequar a educação aos novos tempos, e que foi e está sendo desenvolvido a partir de um repensar sobre os objetivos da educação nestes novos tempos. Assim como foi repensado o papel da educação, o tutor online deve repensar que sua prática baseada nos princípios burocráticos não condiz com o momento atual e deve buscar uma atuação gerencial flexível sendo facilitador na formação de alunos participativos de todo processo de trabalho, compartilhando ou delegando a liderança com os seus alunos, fomentando a reflexão e o debate dos problemas do cotidiano.
O domínio da informática é pressuposto básico para a atuação como tutor online,assim como a  formação acadêmica que permita-lhe questionar os métodos e práticas educacionais tradicionais para que seja capaz de utilizar os recursos tecnológicos à sua disposição, como recursos auxiliares no processo ensino-aprendizagem, “como catalisadores de uma mudança do paradigma educacional. Um paradigma que promova a aprendizagem ao invés do ensino, que coloque no centro do processo o aprendiz (...) passando de uma prática fundamentada no paradigma instrucionista para o construcionista” (Vieira, s.d. p.30)

Os tutores exercem importante função no processo de formação à distância e deverão exercer o papel de facilitadores do processo ensino-aprendizagem, sendo referencia fundamental para os alunos, prestando-lhes apoio individual e coletivo.
Em relação à aprendizagem, o tutor deverá propiciar um ambiente favorável, sempre buscando atender aos interesses e necessidades dos alunos; acompanhando o desenvolvimento de seus conhecimentos, orientar para a utilização das várias ferramentas de comunicação, tais como fórum, chat, etc.
                      Na tutoria individual deverá oferecer aos alunos suporte individual, em encontros pessoais ou a distância via internet, fax, correio tradicional ou eletrônico, telefone, etc. Atendendo a um número limitado de cursistas, deve dar-lhes o apoio necessário para atingir seus objetivos de aprendizagem. A finalidade da tutoria coletiva é oferecer ambiente para o contato direto entre cursistas-cursistas e cursistas-tutor, visando o enriquecimento das experiências. Estes serão momentos de interação e socialização de dificuldades e avanços, onde deverão ser privilegiados a troca de experiências, o acompanhamento e a avaliação das atividades realizadas, como também o desenvolvimento de novas orientações para a continuidade dos estudos.
                   O perfil de tutor desejável para um programa de EAD aproxima-se mais da concepção de um profissional que facilita a construção de significados por parte dos alunos nas suas interpretações de mundo. Profissional que seria melhor denominado como facilitador pedagógico. Para assumir o papel de facilitador pedagógico o tutor deverá possuir base teórica consistente, clara concepção dos objetivos da aprendizagem e da metodologia a ser utilizada. Deverá ainda promover a comunicação entre os alunos e grupos de alunos e o intercâmbio de experiências.
O papel do tutor online é fundamental para o desenvolvimento e acompanhamento do processo da Educação a distância, tanto quanto ao desenvolvimento como com relação ao acompanhamento, quando o mesmo deverá desenvolver atividades como anotação do andamento do processo, registrar as dificuldades e progressos dos cursistas, estratégias e conceitos empregados, assim como de socializador dos passos empreendidos pelos alunos, fomentador da interação e provocador de situações problemas.

Em sua pratica o tutor, enquanto facilitador pedagógico, poderá desempenhar rotineiramente, como indica Rezende (2000), entre outras atividades, as de:
  • encorajar os alunos a buscarem outros pontos de vista e a desejarem aprender e entender;
  • propiciar a análise de experiências significativas e a sua reflexão crítica;
  • promover a comunicação entre os alunos e grupos de alunos e o intercâmbio de experiências.
No entanto, uma das mais importantes atribuições rotineiras do tutor online talvez seja a de humanizador do processo ensino-aprendizagem, o que vai requerer dele o desenvolvimento de uma consciência de fraternidade, de solidariedade e a compreensão de que a evolução das pessoas é individual e, ao mesmo tempo coletiva.
Para tudo isso, o tutor online vai contar com as ferramentas de interatividade, representadas basicamente pelas Tecnologias da Informação e Comunicação.Existe hoje uma grande variedade de ferramentas de ensino à distância à disposição do educador, especialmente quando este faz uso de tecnologia atual como a Internet. O ensino à distância via Internet têm o potencial de por a força da rede mundial a serviço da educação, seja no ensino fundamental, no ensino médio ou na graduação e o tutor online, enquanto facilitador do processo ensino-aprendizagem, deve estar atento às potencialidades e limitações dos recursos tecnológicos auxiliares para a EAD, procurando utiliza-los para instigar o aluno a procurar solução de um problema ou de situações problema, conscientizando-se de que se eles forem utilizados coletivamente poderá significar a possibilidade de interatividade.